terça-feira, 2 de fevereiro de 2010


Nossa escolha




Neste segundo livro, “Nossa Escolha”, Al Gore optou por elencar e explicar minuciosa e didaticamente o que precisa ser feito para salvarmos o planeta. Sua responsabilidade não é pouca e ele entrega o que precisamos: informação clara, para posturas e tomadas de decisão igualmente esclarecidas

José Eduardo Mendonça

Muito se esperava do novo livro de um ex-vice presidente dos Estados Unidos que ganhou um Oscar e um prêmio Nobel da Paz por seu revelador “Uma Verdade Inconveniente”. No primeiro, Gore pintava o quadro de crise que dominava as negociações sobre o clima. Em “Nossa Escolha”, optou por elencar e explicar minuciosa e didaticamente o que precisa ser feito para salvarmos o planeta. Sua responsabilidade não é pouca. Afinal, lembra o ambientalista e escritor Bill McKibben, Gore fez pelo clima o que Mandela fez pelo apartheid e Gandhi pelo colonialismo – colocou a questão no centro da agenda política mundial.

A impressionante quantidade de dados que dão sustentação ao livro foi colhida durante trinta encontros informais que Gore presidiu, e que contaram com a presença de especialistas de diversas disciplinas. Este volume, no entanto, não torna a leitura cansativa – pelo contrário, apenas reforça a crença do autor de que temos neste momento à mão todas as ferramentas para implementar a mudança, e de que precisamos da vontade coletiva e política. Mais ainda, que os benefícios colaterais desta mudança ajudarão a combater a pobreza extrema e a fome disseminadas pelo mundo – as crises econômica, de segurança e ambiental parecem insolúveis quando tratadas separadamente.

”Nossa Escolha” é também um repositório de referências visuais, com fotos, gráficos e com ilustrações sobre como a energia é captada e transformada a partir de suas diversas origens – solar, eólica, geotérmica, de biomassa ou nuclear. Além de transformar o livro em uma bela obra para os olhos, as soluções gráficas nos dão uma compreensão clara de assuntos que de outra forma poderiam exigir uma formação que excluiria da leitura um grande público.

Gore abre o livro com uma citação bíblica: “Ofereço a vocês a escolha entre a vida e a morte. Podem escolher entre as bênçãos e as maldições.” (Deuteronômio, 30:19). Lembra que o dano já feito pela humanidade a seu mundo foi de tal extensão que poderia levar pessoas ao desespero. Esta, porém, não é uma opção. Ele apenas nos deixaria incapazes de reivindicar o controle de nosso destino em tempo de evitar a catástrofe inimaginável que virá, caso não comecemos a fazer mudanças dramáticas, e agora.

Tristemente, uma pesquisa do Pew Research Center feita no ano passado mostrou que houve uma acentuada queda no número de americanos que acreditam existir evidências sólidas do aquecimento global – 57%, comparados a 71% em abril de 2008. Os números traduzem a reação de uma sociedade cuja opinião é fortemente influenciada pela indústria de energia convencional (cujos executivos mantinham cargos em quase todos os ministérios da administração de George W. Bush). Em 1992, informa Gore, o Information Council on Environment (lobby dos predadores do ambiente) publicou nacionalmente uma série de anúncios cuja desonestidade é flagrante em seus títulos – entre eles “Quanto você está disposto a pagar por um problema que não existe? ” e “Há quem diga que a Terra está se aquecendo. Também disseram que ela era plana.”

Nâo cabe aqui esmiuçar o conteúdo de “Nossa Escolha”, mas cabe aconselhar que seja lido e que seus conhecimentos sejam amplamente disseminados. Enfático sem ser proselitista, Gore entrega o que precisamos – informação clara, para posturas e tomadas de decisão igualmente esclarecidas. Como ele lembra, numa citação do filósofo Theodor Adorno (1903-1969), “a conversão de todas as questões da verdade em questões de poder ... atingiu o coração mesmo da distinção entre verdadeiro e falso.” É necessário estarmos atentos. O que está em jogo é nosso futuro como espécie.

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