domingo, 12 de dezembro de 2010


Ele faz chover

Depois de produzir chuvas artificiais, o engenheiro Takeshi Imai inova com a árvore-flecha. É sua solução para reflorestar áreas devastadas e de difícil acesso
Por Darcio Oliveira

Ênio Cesar

O INVENTOR

Imai, ao lado de seus bimotores, no aeroporto de Bragança. É ali que mora e trabalha

O engenheiro Takeshi Imai, de 68 anos, olhou para o céu claro de Bragança Paulista, balançou a cabeça e informou, um tanto desolado: “É uma pena, mas hoje não vai dar pra fazer chover. Não tem nenhuma cumulus congestus”. Diante de minha ignorância meteorológica, foi logo explicando: “Cumulus congestus é um tipo de nuvem que lembra uma couve-flor. Costumo dizer que são as nossas matérias-primas, pois é a partir delas que conseguimos precipitar as chuvas”. Eis o ganha-pão de Imai: a produção e venda de chuvas artificiais localizadas, uma atividade que vem ganhando especial relevância em tempos de aquecimento global e constantes alterações climáticas. Diferentemente de outros métodos de precipitação, que usam substâncias químicas como cloreto de sódio e iodeto de prata, o processo patenteado pelo inventor e operado por sua empresa, a ModClima, é puramente físico, uma reação de água com água. “A adição de produtos químicos já foi banida de alguns países, por representar riscos para a saúde”, afirma Imai. “Eu criei algo eficaz e ao mesmo tempo ecológico.”

Funciona assim: a bordo de um Piper Asteca, um avião bimotor dotado de um reservatório de 300 litros de água potável, a equipe da ModClima despeja micropartículas de água na base de nuvens previamente identificadas por softwares especializados. Somadas às gotículas já existentes na nuvem, as tais micropartículas produzem gotas maiores que, devido ao peso, precipitam a chuva. Em outras palavras, as gotas se unem e formam os pingos. A engenhosidade de Imai está na capacidade de controlar o tamanho da gota que será “semeada”. Isto ocorre graças a quatro bicos rotativos – que também funcionam como pulverizadores – acoplados na parte externa do avião. Para cada litro de água semeada são produzidos cerca de 500 mil litros de água de chuva, o equivalente ao carregamento de 50 caminhões-pipas. “A vantagem é que podemos direcionar a chuva para locais específicos, como reservatórios, mananciais e áreas agricultáveis”, afirma Imai. As chuvas duram, em média, de uma a três horas.

Árvore-flecha

Formado em engenharia mecânica pelo Mackenzie e mestre pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica, o ITA, Imai trabalha e mora (sozinho) no hangar de número 3 do pequeno aeroporto de Bragança Paulista, no interior de São Paulo. Inquieto e falante, é capaz de passar horas explicando suas invenções – que não são poucas –, ou dissertando sobre como os inovadores brasileiros sofrem com a falta de incentivos financeiros. “Olha isso aqui”, diz, apontando para um quadro na parede da sala de reuniões do hangar. “É o certificado que representa a medalha de ouro no Simpósio Internacional da Água, em Cannes. Lá fora eu sou premiado e aqui enfrento ceticismo em relação ao meu trabalho.” Sua ModClima ainda não está no azul. O faturamento no ano passado bateu em R$ 1,8 milhão, mas o que entra no caixa dissipa-se rapidamente, sob efeito da folha de pagamento de sete funcionários, dos gastos com combustíveis e manutenção dos dois aviões (além do Piper, há um Cessna 172) ou dos custos com os projetos piloto para cada uma das novas invenções. O orçamento da empresa não acompanha o ritmo de ideias de Imai.

No momento, por exemplo, a ModClima desenvolve a árvore-flecha. É exatamente o que o nome sugere. Em breve, o Cessna cortará os céus do Brasil, sobre regiões devastadas e de difícil acesso, e lançará – por meio de um sistema de balística – diversas setas de bambu que carregam mudas nativas acondicionadas em pequenos tubos biodegradáveis feitos de papel kraft (papelão). “Demoramos um bom tempo para calibrar a velocidade de lançamento e achar o material ideal para compor a flecha e os tubetes que levam as mudas”, conta Imai. O caso do bambu é curioso. Jogado do avião, o material mantinha a direção certa, exibia boa resistência e quase sempre acertava o alvo previamente estabelecido pela equipe da ModClima. Mas a flecha descia com tal velocidade que acabava completamente enterrada no solo, o que poderia comprometer a integridade das mudas. A intenção era que apenas espetasse o solo, o suficiente para fazer com que o papelão rompesse e colocasse a planta em contato com a terra. A saída encontrada por Imai foi colocar na parte de cima da flecha uma tira de papel, à guisa de rabiola de pipas, para freá-la. O problema foi resolvido. “Pensei em usar o bambu depois de ver os espetinhos de churrasco. E a embalagem de papelão para as mudas foi inspirada no formato da embalagem das batatinhas do McDonald’s”, conta, sorrindo, o inventor.

Quanto às mudas, são espécies nativas delineadas por botânicos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP. Acondicionadas por dez dias em estufas, as espécies recebem um hormônio enraizador – para acelerar o processo de metabolismo – antes de seguir para a embalagem cartonada. “Já fizemos algumas experiências e o resultado foi animador”, diz Majory Imai, filha de Takeshi e diretora da ModClima. A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, Sabesp, gostou da ideia e vai financiar novos testes. As árvores-flechas serão lançadas neste mês em uma área de proteção de mananciais da empresa, localizada na cidade de Piracaia (SP), onde a ONG The Nature Conservancy já faz um trabalho de revegetação em larga escala. O esforço faz parte do projeto “Um Milhão de Árvores no Sistema Cantareira”, patrocinado pela estatal.

Infográfico_Alexandre Affonso

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010


ABNT publica Norma de Sistema de Gestão de SST


Data: 02/12/2010 / Fonte: Redação Revista Proteção

Ilustração: Redação Revista Proteção


A real prevenção de acidentes depende de uma gestão eficaz. Uma empresa que não realiza um planejamento das políticas e programas de SST, é o mesmo que uma companhia sem um departamento administrativo. A fim de auxiliar no gerenciamento pela redução destes acidentes e doenças ocupacionais, a ABNT/CEE-109 (Comissão de Estudo Especial de Segurança e Saúde Ocupacional da Associação Brasileira de Normas Técnicas) aprovou em 1º de dezembro a Norma NBR 18801 de Sistema de Gestão de Saúde e Segurança Ocupacional - Requisitos.

A Comissão de Estudo foi lançada em 2002, reativada em 2008 e contou com o empenho de mais de 90 especialistas na confecção do documento. O Inmetro participou das discussões do grupo, o que sugere que a NBR poderá tornar-se, na sequência, certificável. Alguns dos referenciais da norma são a normativa internacional OHSAS 18001 (Occupational Health and Safety Assessment Series) e as Diretrizes sobre Sistemas de Gestão de SST da OIT (Organização Internacional do Trabalho). Entretanto, a primeira NBR vai além e busca levar em conta peculiaridades da realidade brasileira e das micro e pequenas empresas. A norma engloba o gerenciamento dos processos em questões de SST, estimulando a melhoria contínua das condições de trabalho e contribuindo para a redução de custos, riscos, acidentes e doenças ocupacionais. "Será uma ferramenta básica para análise da cultura empresarial e terá impactos na questão do FAP, podendo aumentar ou diminuir o seguro acidente do trabalho", afirmou o assessor da Secretaria de Inspeção do Trabalho, Domingos Lino.

domingo, 10 de outubro de 2010


Empresas não cumprem
lei que inclui deficiente


Muitas descumprem a determinação sob a alegação de que faltam profissionais qualificados no mercado

10/10/2010 - 21h14 . Atualizada em 10/10/2010 - 21h23

Delma Medeiros
Agência Anhangüera de Notícias | fale com o repórter
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A lei federal 8.213, que determina que empresas com mais de 100 funcionários reservem de 2% a 5% das vagas para pessoas com deficiência, foi implantada em 1999, mas muitas delas ainda descumprem a determinação sob a alegação de que faltam profissionais qualificados.

Nos 34 municípios abrangidos pela Gerência Regional de Trabalho de Campinas, de 731 empresas passíveis de contratação, apenas 347 (47,4%) cumprem a cota que lhes cabe. Outras 215 assinaram o Termo de Ajuste de Conduta (TAC) e estão em processo de adequação para o cumprimento da cota. E 169 estão sendo chamadas agora pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) para iniciar o processo de contratação. Dessas, 106 foram convidadas a participar de audiência pública para discutir o tema na última sexta-feira, no Salão Vermelho do Paço Municipal .

“O objetivo é sensibilizar as empresas para a importância da inclusão das pessoas com deficiência. A meta é quebrar o paradigma e promover a inclusão”, disse o gerente regional Sebastião Jesus da Silva. Segundo ele, muitas empresas contratam apenas para burlar a fiscalização, mas não promovem de fato a inclusão, deixando a pessoa excluída dentro do ambiente de trabalho. “As empresas e os funcionários têm que participar do processo e promover as adaptações necessárias.”

A procuradora do Trabalho Maria Stela Guimarães de Martin, disse que realmente há falta de qualificação entre as pessoas com deficiência, em decorrência da pouca acessibilidade e das barreiras naturais. “Mas a resistência das empresas deve-se ao investimento financeiro para as adequações e ao preconceito velado que ainda persiste”, afirmou. Segundo ela, grandes empresas até mantêm pessoas com deficiência em seus quadros, mas não conseguem cumprir a cota devido ao número elevado de funcionários.

Para amenizar a situação, algumas empresas, como o CPqD, iniciaram um curso de qualificação diferenciado para atender suas necessidades. “Este esquema tem sido estendido a outras empresas, como a montadora Honda, por exemplo”, citou Silva. A proposta é que as próprias empresas se encarreguem da qualificação de seus funcionários com deficiência, explicou Maria Stela.

Conforme os dados de atendimentos na matriz de Campinas, atualmente 7.149 pessoas com deficiência estão empregadas na regional. Mas, outras 4.761 ainda aguardam uma vaga no mercado de trabalho, segundo Silva.
A procuradora disse que, apesar da resistência de algumas empresas, o processo de inclusão avançou.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010


Especialista dá dicas sobre postura no trabalho

Data: 29/09/2010 / Fonte: Administradores


Quando você sai do trabalho fica com as costas doloridas ou com algum incomodo na região do ombro? Caso sua resposta seja sim, cuidado, sua postura possivelmente está inadequada na hora de sentar. Profissionais que trabalham muito tempo em frente ao computador devem ter atenção redobrada.

De acordo com Ângela Lepesqueur, fisioterapeuta especialista em coluna e diretora do Instituto de Tratamento da Coluna Vertebral em Brasília, determinadas posições podem comprometer a coluna cervical do ser humano. Por isso, tomar alguns cuidados com a postura são fundamentais para evitar problemas sérios na coluna e garantir uma saúde perfeita no dia a dia do trabalho ou no horário do estudo.

Segunda a fisioterapeuta, inicialmente deve-se ter atenção com os móveis que são são utilizados. "A cadeira deve ter uma altura adequada, para que os pés fiquem bem apoiados no solo. O encosto deve ser confortável e se adequar bem às costas. Além disso, a pessoa deve manter o objeto central da atividade na altura dos olhos". Para quem escreve, há a necessidade de um apoio, para manter o grau de inclinação adequado. Exageros também devem ser evitados. "As pessoas não devem manter a mesma postura por mais do que 40 minutos. O ideal é que ela faça pequenas pausas, se levante, tome uma água e volte aos estudos", indica Ângela.

O ambiente de estudo ou do trabalho deve também ser bem iluminado, afirma Ângela Lepesqueur. Assim, além de prevenir danos à visão, ainda evita que a pessoa fique em uma posição desconfortável para a leitura. "O ideal é que se tenha à disposição uma mesa de apoio, que não pode ser muito alta, pois os braços vão permanecer longos períodos elevados, ou muito baixa, porque a coluna terá que se curvar para alcançá-la", aponta a fisioterapeuta.

domingo, 12 de setembro de 2010


PL propõe aposentadoria em caso de doença ocupacional

Data: 10/09/2010 / Fonte: Agência Senado

Ilustração: Beto Soares/Revista Proteção



Doenças ou lesões causadas pelo serviço podem permitir a aposentadoria por invalidez aos segurados da Previdência Social. É o que propõe projeto do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) protocolado na Mesa do Senado no dia 8 de setembro. O projeto deverá ser numerado, lido em sessão do Plenário e encaminhado para apreciação das comissões temáticas.

A proposição estabelece aposentadoria por invalidez para os casos de doenças causadas por sobrecarga na coluna vertebral ou doença renal hipertensiva adquirida pelos trabalhadores em transporte rodoviário de passageiros ou de cargas. Propõe também a aposentadoria aos empregados que sofrerem lesões causadas por esforço repetitivo e distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (LER/Dort), responsáveis por mais de 65% dos casos reconhecidos de incapacitação.

Os casos de LER/Dort são transtornos que acometem a coluna cervical, vasos, ossos, nervos, tendões e articulações, principalmente os membros superiores. No caso dos motoristas, por exemplo, o uso continuado de certos grupos musculares provoca lesões que os impede de continuar exercendo a profissão. Arthur Virgílio registrou que a falta de uma legislação dispondo sobre a aposentadoria por invalidez faz com que o INSS considere essas doenças reversíveis e apenas proporcione o auxílio-doença

Rod. dos Bandeirantes é refeita com asfalto ecológico

A concessionária responsável pelas obras apresentou hoje, dia 10 de setembro, o primeiro trecho da Rodovia dos Bandeirantes que foi reconstruído com pavimento reciclado e asfalto-borracha. Até 2011, a empresa pretende recuperar, de forma ecológica, 600 km da rodovia


Mônica Nunes/Débora Spitzcovsky
Planeta Sustentável - 10/09/2010

Em 2010, a Rodovia dos Bandeirantes foi eleita a melhor do país, pela quinta vez consecutiva, pelo Guia Quatro Rodas, da Editora Abril, e, hoje, dia 10 de setembro, a Rodovia ganhou mais um título para comemorar: o de uma das mais ecológicas do Brasil.

Isso porque a concessionária CCR Autoban, que administra o sistema paulista Anhanguera-Bandeirantes desde 1998, inaugurou hoje o primeiro trecho da rodovia recuperado de forma ecológica: uma das camadas estruturais da pista foi reconstruída com pavimento reciclado e o revestimento da superfície foi feito com asfalto-borracha, produzido a partir de pneus velhos.

Parte do processo de reciclagem do pavimento usado para reconstruir o trecho – localizado entre os km 85 e 78, da pista sentido capital – ainda foi feito no próprio canteiro de obras da rodovia, em uma “usina móvel”, diminuindo as emissões por transporte. O asfalto velho foi retirado da pista, triturado e enriquecido com cimento e pó de pedra no próprio local e ,depois, reaplicado.

De acordo com a CCR Autoban, a operação reciclou 450 mil pneus – que levam cerca de 600 anos para se decompor – e o equivalente a 36 piscinas olímpicas cheias de asfalto velho, reduzindo a quantidade de resíduos produzidos nas obras de recuperação da Rodovia. Ainda segundo a concessionária, o novo asfalto não traz, apenas, benefícios ambientais para a cidade: o pavimento ecológico gera menos ruídos e maior aderência dos pneus, além de ser mais durável, o que proporciona mais segurança e conforto aos motoristas que transitam pela rodovia.

Até 2011, a CCR Autoban pretende recuperar, de forma ecológica, 600 km de pistas da Rodovia dos Bandeirantes, a partir do investimento de R$ 82 milhões.


Os novos suspeitos do aquecimento global

A Terra está ficando mais quente. E isso é culpa da poluição gerada pelo homem. Fato. Mas novos estudos revelam que o problema também vem de onde menos se espera: o mar, as nuvens e até as plantas podem estar contribuindo para piorar os efeitos do CO2


Salvador Nogueira e Bruno Garattoni
Revista Superinteressante – 09/2010




Em novembro de 2009, hackers invadiram um computador da Universidade de East Anglia, que fica no Reino Unido e é um dos principais centros da pesquisa sobre o aquecimento global. De lá saem vários dos números que a ONU utiliza em seus estudos - em que os governos de todo o mundo se baseiam para tomar decisões sobre o assunto. Os hackers roubaram 1 000 e-mails e 2 mil documentos, em que os cientistas debatem questões técnicas - inclusive uma série de mensagens em que discutem um "truque" para "esconder um declínio" (palavras deles) na quantidade de CO2 presente na atmosfera em épocas passadas. O episódio, apelidado pela imprensa de Climagate (uma referência a Watergate, escândalo que derrubou o presidente americano Richard Nixon nos anos 70), gerou uma polêmica mundial. Quem não acredita no aquecimento global, ou acha que ele não é obra da humanidade, encarou os tais e-mails como suposta prova disso. E os cientistas foram acusados de manipulação de dados. Montaram-se vários comitês independentes para investigar o caso, que chegaram a uma conclusão unânime. Os números do aquecimento global estavam certos, e o tal truque era apenas um procedimento matemático. Os pesquisadores tinham descartado alguns poucos números de medição de temperatura - que estavam muito diferentes dos demais, e por isso provavelmente errados. É uma técnica estatística válida e aceita pela ciência.

Mas essa novela abriu uma nova discussão: existe muita coisa que ainda não entendemos sobre o aquecimento global. O básico, todo mundo sabe. O homem queima combustíveis fósseis e isso libera CO2, que se acumula na atmosfera e provoca o famoso efeito estufa, que impede que o calor se dissipe e deixa a Terra mais quente. Só que isso não conta toda a história. A emissão de CO2 desencadeia efeitos estranhos no planeta. E isso faz com que elementos aparentemente inofensivos se voltem contra a humanidade, piorando o aquecimento global.

A água, por exemplo. Água é vida. É difícil acreditar que ela possa ter algum efeito maléfico sobre alguma coisa, quanto mais piorar o aquecimento global. Mas é justamente isso que pode estar acontecendo. Vamos explicar. Pense na água em estado sólido: gelo. Localizado principalmente nos polos, ele ajuda a refrigerar o planeta. Não porque é frio, mas porque é branco. Sabe quando está muito sol e você usa uma roupa branca, porque essa cor reflete melhor os raios solares? Com o gelo, é a mesma coisa. Como ele é clarinho, reflete bem a radiação solar - faz com que o calor que chega à Terra seja rebatido de volta para o espaço. Com o aquecimento global, o gelo está derretendo, virando água e aumentando o nível dos oceanos. Só que o mar não reflete tão bem a radiação solar. Na verdade, ele absorve essa radiação, fica mais quente e sua água evapora. E é aí que o problema começa.

VEJA QUADRO: Levantou poeira

Quanto mais os oceanos esquentam, mais água evapora. Na forma de gás, a água tem muita capacidade de reter calor: é uma substância quase tão potente quanto o CO2 na produção do efeito estufa. Quanto mais vapor d’água, mais calor retido na atmosfera - o que, por sua vez, deixa os oceanos ainda mais quentes, realimentando o processo. Ninguém sabe exatamente o tamanho do problema, mas segundo estimativas feitas pelo climatologista Richard Linzen, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), a cada 1 grau de aquecimento global causado pela emissão de CO2, o vapor d’água poderia adicionar até 0,7 oC. Um estudo produzido pela equipe da cientista Susan Solomon, da Noaa (agência do governo dos EUA que estuda os oceanos e a atmosfera), demonstrou, com dados de satélites e de balões meteorológicos, que a quantidade de vapor d’água na estratosfera disparou nos anos 90 - e foi responsável por quase 30% do aquecimento global ocorrido nessa década. Em suma: a água na atmosfera potencializa o efeito do CO2 e piora o efeito estufa. Mas ela também é capaz de uma coisa que o CO2 não faz: formar nuvens. E as nuvens são brancas, ou seja, refletem os raios solares de volta para o espaço e aliviam o aquecimento da Terra. Ou não. "As nuvens na baixa atmosfera [cuja base está a até 2 quilômetros de altura do solo] têm esse efeito, mas nuvens na alta atmosfera [a mais de 6 quilômetros do solo] acirram o efeito estufa, rebatendo calor de volta para a Terra", explica o climatologista Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Aqui está mais um mistério para a ciência. Os cientistas suspeitam que a questão tenha a ver com a temperatura das nuvens. Quando elas estão no alto, são mais frias - e mais propensas a absorver e reter o calor do Sol, o que acabaria esquentando a atmosfera. A tese é aceita pela maioria dos especialistas, que só não entram em acordo quanto à intensidade do efeito. Números divulgados pelo IPCC (a agência da ONU que estuda o aquecimento global) apontam que as nuvens podem adicionar de 0,4 a 2,3 OC à temperatura do planeta. Se essa estimativa parece imprecisa, é porque é mesmo - vem de simulações de computador, que têm uma margem de erro considerável. Elas têm 300 quilômetros de precisão, ou seja, não conseguem calcular corretamente fenômenos que sejam menores do que isso - como as nuvens. "Esse é o principal problema das simulações", explica Nobre.

SOL, PLANTAS, PESSOAS E TRAPALHADAS

Há mais fatores que podem influenciar as mudanças climáticas. Até o mais básico deles - o Sol. Ele não trabalha de forma constante: segue ciclos que alternam fases de atividade mais e menos intensa. Isso muda a quantidade de radiação que chega à Terra - e, consequentemente, o clima. Ao longo do século 20, o Sol passou por períodos de alta atividade, o que provocou parte do aquecimento global (cerca de 0,1 dos 0,76 OC registrados ao longo desse período). Nos últimos 10 anos, nossa estrela-mãe entrou numa fase de calmaria. Mas (como você ficou sabendo na última edição da SUPER) a Nasa prevê que a radiação solar possa voltar a aumentar a partir de 2013.

Até as plantas podem piorar o aquecimento global. Foi isso o que constatou um estudo recente feito pelo cientista atmosférico Long Cao, da Universidade Stanford. Ele descobriu que o aumento da concentração de CO2 na atmosfera faz com que a fisiologia das plantas se modifique, com um efeito ruim sobre a temperatura. Ora, mas os vegetais sempre foram tidos como a grande salvação do planeta, porque tiram carbono da atmosfera por meio da fotossíntese. Como pode ser verdade uma coisa dessas? Acontece que, além de fazer a fotossíntese e absorver CO2 da atmosfera, as plantas também têm outro papel importante. Elas transpiram, e com isso retiram calor do próprio organismo, de quebra resfriando a superfície terrestre. O problema é que, quando o CO2 se torna excessivo, as plantas passam a transpirar menos - e esse ar-condicionado natural para de funcionar (veja no infográfico ao lado). Os cientistas de Stanford descobriram que a falta de transpiração nas plantas é responsável por 16% do aquecimento global que estamos vivendo hoje. Em algumas regiões do globo, como partes da América do Norte e da Ásia, o efeito é ainda mais forte: 25%. "Nós mostramos que o efeito fisiológico precisa ser levado em conta nas projeções climáticas", diz Cao.

VEJA QUADRO: Parte da solução - e do problema


E outro estudo colocou ainda mais lenha na fogueira - ou melhor, calor na atmosfera. Até o estresse das plantas pode acabar contribuindo para o aquecimento global. Pesquisadores da Universidade de Calgary, no Canadá, perceberam que, quando alguns tipos de plantação são expostos a secas ou temperaturas mais altas (fenômenos que podem ser provocados ou intensificados pelo aquecimento global), as plantas ficam estressadas e começam a liberar mais metano - um gás extremamente perigoso para o aquecimento global porque retém 23 vezes mais calor na atmosfera do que o CO2. Esse efeito foi comprovado em 7 tipos de plantação, entre elas o trigo - que é o vegetal mais cultivado do planeta. As plantas podem fazer mal. Já um determinado tipo de poluição, quem diria, pode fazer bem: os aerossóis. Eles são partículas suspensas na atmosfera e podem ter diversas origens, como queima de combustíveis, erupções vulcânicas e até poeira. E podem tanto aumentar quanto diminuir a temperatura da Terra. A queima de combustíveis fósseis (gasolina, por exemplo) gera partículas de carvão, que são pretas e por isso absorvem radiação solar - deixando a atmosfera mais quente. Já as erupções vulcânicas podem ter o efeito oposto. Quando um vulcão se torna ativo, joga grandes quantidades de dióxido de enxofre na alta atmosfera. É uma substância tóxica, mas que reflete a radiação solar; e ajuda, de forma passageira porém intensa, a esfriar o planeta. Por isso, alguns cientistas defendem a injeção de dióxido de enxofre na atmosfera como uma solução paliativa. Mas a maioria acha essa técnica muito perigosa. "Se for necessário interromper o processo por causa de algum efeito imprevisto, o aquecimento global que havia sido contido viria todo de uma vez. Seria uma catástrofe inimaginável", diz Nobre.

Com tantas variáveis novas, as dúvidas sobre o aquecimento global só tendem a aumentar. Os cientistas estão aperfeiçoando suas simulações, mas o número de elementos envolvidos passa a ser tão grande, com tantos fatores difíceis de medir, que continuaremos com a mesma margem de erro. "Desde os primeiros resultados do IPCC temos essa incerteza, que é de 2 graus a 2 graus e meio", afirma Carlos Nobre. "Nos próximos resultados, o grau de variação continuará sendo mais ou menos esse." O novo relatório do IPCC, que será escrito por 831 cientistas, deve ficar pronto entre 2013 e 2014. E esse processo, aliás, é uma fonte de incerteza à parte. Não é fácil coordenar as opiniões e conclusões de centenas de especialistas espalhados pelo mundo, o que transforma o IPCC numa fábrica de conflitos. Cientistas já renunciaram a seus cargos por discordar dos procedimentos do grupo, cujos relatórios já apresentaram pelo menos um erro crasso: dizer que as geleiras do Himalaia poderiam derreter e sumir já em 2035. A imprensa inglesa achou a afirmação exagerada, foi investigar e descobriu que a prova disso não vinha de estudos sérios. Era apenas a opinião pessoal de um cientista, que dera uma entrevista a respeito em 1999. O IPCC admitiu o erro, mas logo depois surgiu outro - um trecho do relatório se baseava na dissertação de um estudante de geografia.

Mesmo com esses deslizes embaraçosos, a palavra do grupo é séria e aceita pela comunidade científica. Só não é absoluta. Porque, mesmo se toda a ciência do clima fosse decifrada, continuaria a existir um elemento de dúvida: a própria humanidade. O mundo está mudando - e as pessoas e as nações estão cada vez mais cientes de seus papéis no aquecimento global. As tentativas de costurar acordos internacionais para reduzir as emissões de CO2 têm tropeçado (a conferência COP 15, realizada recentemente na Dinamarca, acabou em fracasso). Mas pode ser que no futuro, com o agravamento das mudanças climáticas, os poderes do mundo tomem providências. Porque, se ainda há muito o que não sabemos sobre o aquecimento global, de uma coisa sabemos bem. É preciso fazer alguma coisa para contê-lo, antes que seja tarde demais.

Para saber mais

Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC)

segunda-feira, 30 de agosto de 2010


Falta de higiene dos médicos contamina hospitais

Data: 30/08/2010 / Fonte: Correio Braziliense


Um levantamento feito este ano pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em cinco hospitais de grande porte do país constatou que 60% dos profissionais de saúde não higienizam as mãos antes e depois de terem contato com os pacientes. A situação é tão grave que a Anvisa vai exigir que hospitais, clínicas e demais estabelecimentos de saúde disponibilizem produtos de higiene (álcool) para médicos, dentistas, enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, entre outros.

O produto poderá ser oferecido em forma de gel, líquido ou espuma, mas seu fornecimento será obrigatório. Os estabelecimentos de saúde terão até 180 dias para se adequarem. "Vamos consolidar as sugestões que recebemos de todo o país. Depois de publicada a norma, ela passará a ser obrigatória", explica Janaína Sallas, chefe da Unidade de Investigação e Prevenção das Infecções da Anvisa. Segundo Sallas, o procedimento é uma medida básica que evita a disseminação da infecção hospitalar.

A especialista destaca que, muitas vezes, a baixa adesão dos profissionais ao hábito de lavar as mãos está relacionada com a grande carga de trabalho. "A Anvisa não está pedindo que a água e o sabão sejam substituídos. Uma lavagem de mãos com sabonete dura, em média, um minuto e meio. Com o álcool, o tempo passa para 15 segundos", informa. A proposta é que o produto seja posto nos pontos de assistência e tratamento, salas de triagem e de pronto atendimento, e unidades de urgência e emergência. O álcool deve estar em ambulatórios, clínicas e consultórios, serviços de atendimento móvel e nos locais em que são realizados procedimentos invasivos.

Os dispensadores deverão ficar em lugar visível e de fácil acesso, à beira do leito do paciente, de forma que os profissionais de saúde não precisem deixar o local para fazer a higienização. "A proposta é para que todos tenham acesso ao produto nos cinco momentos preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS): antes e depois do contato com o paciente, antes da realização de procedimentos assépticos, após exposição a sangue e outros fluidos corporais e após contato com ambiente próximo ao doente", orienta Janaína.

Mas mesmo com todo o esforço, a norma pode, ainda assim, passar despercebida. Uma pesquisa de 2009, feita em um hospital público de Ipatinga (MG), pela enfermeira Fernanda Mendes Santos, do Centro Universitário do Leste de Minas (Unileste), comprovou que apesar da disponibilidade dos produtos para a lavagem e da existência de cartazes explicando como lavar as mãos corretamente, os profissionais não adotaram o procedimento e passaram por lavatórios como se eles não existissem. "Fernanda sentou-se ao lado de uma pia e observou que o uso de água e sabão era mínimo. E não são só os médicos, outros trabalhadores também não têm o hábito de lavar as mãos. É um gesto indispensável, de eficácia documentada em estudos bem antigos. Num ambiente hospitalar, há bactérias multirresistentes, que podem ser transportadas de um doente para o outro", comenta a orientadora da pesquisa, Virgínia Maria da Silva Gonçalves, professora de enfermagem e doenças transmissíveis do Unileste.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010


Jovem que perdeu braço em triturador diz que não recebeu treinamento

Empresa diz que situação trabalhista do funcionário era normal.
Acidente ocorreu na segunda-feira, na fábrica de massas Cadore.


O jovem que perdeu um braço despedaçado em um triturador de massas na fábrica da Produtos Alimentícios Cadore S/A, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, afirmou, em depoimento a policiais da 64ª DP (São João de Meriti), que, apesar de ter sido contratado como “auxiliar de produção”, desde que entrou na empresa exerce a função de “operador de máquina”.

O acidente ocorreu na manhã de segunda-feira (17). “Na carteira de trabalho dele está o cargo de ‘auxiliar de produção’. Isso caracteriza um desvio de função”, afirmou o advogado Geraldo Flávio Campos Dias, que defende Rafael.

“Eu não sou operador de máquina. Não me deram treinamento nenhum”, disse Rafael Costa de Souza, de 25 anos, em entrevista ao G1. “Por várias vezes eu pedi para trocar de setor”, acrescentou o jovem, que trabalhava há sete meses na fábrica.

A diretora-administrativa da Cadore, Claudia Scofano, explicou que não há operadores de máquina trabalhando no triturador de massas, mas somente auxiliares de produção, já que, segundo ela, o triturador "não é uma máquina para ser operada e não precisa de parâmetros para funcionar”, pois só tem o botão liga/desliga.

“Essa função é exercida por auxiliares de produção porque não precisa ter expertise de operação de máquina. Basicamente, o trabalho é abastecer o equipamento”, explicou Claudia Scofano.

Cláudia Scofano afirmou que todas os funcionários da Cadore são treinados para trabalhar com as máquinas. “Tenho que verificar com o encarregado do setor se o Rafael não foi treinado”, disse. Ainda de acordo com a diretora-administrativa, o que ocorreu foi um acidente de trabalho e que, segundo o responsável pela área onde Rafael trabalhava, o funcionário teria agido com imprudência.

Funcionário afirma que local não era seguro

Os advogados de Rafael tiraram um foto dele quando estava internado.

Os advogados de Rafael tiraram um foto dele
quando estava internado. (Foto: Arquivo Pessoal)

Rafael afirma no depoimento que, “para ter acesso ao triturador onde tinha que jogar o macarrão, tinha que subir uma escada de dois degraus, que ficava solta, deslizando no chão liso”. O jovem contou ao G1 que já tinha jogado um saco de macarrão dentro do triturador, e que, quando jogava o segundo saco, a escada escorregou. Então, ele caiu e sentiu a palma da mão ser puxada pela máquina.

“O triturador me puxava. Eu gritava muito. A minha cabeça chegou a bater na ferragem do triturador, e ficou marcada. A máquina quase estoura minha cabeça”, conta Rafael. “Eu fiquei forçando o peso para fora, para o triturador não me puxar e moer o meu corpo. Eu gritava e pedia ajuda pelo amor de Deus, mas ninguém escutava, por causa do barulho da máquina”, complementa.

A diretora-administrativa da Cadore disse que precisa verificar o que ocorreu na hora do acidente. “Eu não conheço o posicionamento da escada”, afirmou. De acordo com Cláudia Scofano, a fábrica não dispõe de ambulâncias para atendimento e remoção de urgência.

Funcionário conta que ficou com braço preso por dez minutos
No depoimento à polícia, Rafael conta que só foi socorrido cerca de dez minutos depois que o braço foi sugado pelo triturador de massas, por um eletricista da Cadore. “Ele foi socorrido por acaso, pois o eletricista tinha ido verificar um problema na máquina que tinha sido avisado pelo próprio Rafael”, diz o advogado Cláudio da Fonseca Vieira, que também defende o funcionário.

O cargo preenchido na carteira de trabalho de Rafael é a de auxiliar de produção.

O cargo preenchido na carteira de trabalho de
Rafael é de auxiliar de produção. (Foto: Arquivo Pessoal)

Ainda no depoimento, Rafael relata que operava o triturador “sem os equipamentos de segurança necessários”, e que “já havia reclamado com seus superiores sobre a falta de máscaras e óculos de proteção, mas a empresa alegava que o material estava em falta”.

“O certo é ter um operador de máquina para trabalhar no triturador, junto com um auxiliar. Se tem alguém do meu lado, podia desligar a máquina. Eu teria perdido um dedo, ou uma mão, mas perdi meu braço todo”, conta Rafael.

Apesar de afirmarem que a Cadore está apalavrada em dar assistência a Rafael, os advogados do funcionário fizeram algumas críticas à empresa. “Eu acho que a empresa está acanhada na prestação de serviços e no pós-operatório”, afirmou Campos Dias. “Nós é que levamos o Rafael para casa quando ele teve alta do hospital. Isso denota uma falta de atenção da empresa, por não ter providenciado um carro para levá-lo”, complementou Fonseca Vieira.

Diretora-administrativa da Cadore diz que empresa está prestando toda a assistência
Sobre a falta de equipamentos de segurança, Cláudia Scofano afirmou que não procede a informação dada por Rafael. “O perito da polícia tirou fotos dos óculos de proteção, que estavam no local do acidente. E as máscaras estão disponíveis no RH e no Setor de Qualidade, que fica próximo ao local onde Rafael estava trabalhando”, ressaltou. Sobre o fato de Rafael estar sozinho no triturador, ela disse que é uma situação normal. “Isso depende da quantidade do produto. Se for pouco, uma pessoa só é suficiente para abastecer”, explicou.

A diretora-administrativa informou que a Cadore está prestando toda a assistência necessária a Rafael e acredita que estão ocorrendo “ruídos na comunicação”. “Vamos dar uma cesta básica para ele e oferecemos uma psicóloga da empresa, mas a família está recusando nossa ajuda. Inclusive, eles não aceitaram um cartão, assinado pelos funcionários, que enviamos junto com flores”, contou Cláudia Scofano.

“Mandei para a família uma carta com um e-mail, número de fax e cinco telefones para que não haja dificuldade em passar as receitas e os medicamentos necessários, que vamos custear. Nós estamos fazendo um plano de saúde para o Rafael, que pode ser aposentado por invalidez ou ser recolocado na empresa, após uma preparação específica”, afirmou a diretora-administrativa. “Todos os traslados dele serão custeado por nós. Só peço, caso a família precise de locomoção, que avise com 24 horas de antecedência”, acrescentou.

Rafael diz que está sentido muita dor e que sente uma imensa dificuldade para dormir. “Dói muito, e eu choro às vezes. É difícil sair de casa. Só dá para utilizar uma mão quando tomo banho, para me limpar”, conta ele.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Explosão ocorre em indústria química de Taubaté/SP

Data: 16/08/2010 / Fonte: G1, com informações do VNews

Foto: Reprodução TV Globo


Taubaté/SP - Um trabalhador morreu e dois ficaram gravemente feridos em uma explosão em indústria química de Taubaté, no Vale do Paraíba, ocorrida no início da noite do dia 15 de agosto. A empresa tem cerca de 40 funcionários e produz resina, biodiesel e outras substâncias utilizadas na fabricação de medicamentos veterinários.

Por volta das 19h20min ocorreu a primeira explosão, em uma tubulação. Ninguém estava na linha de produção quando começou o incêndio. Técnicos da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) foram acionados. Ao verificar o aparelho, foram surpreendidos por uma segunda explosão. "Houve a primeira explosão, a brigada de incêndio da empresa foi verificar o que era, ocorreu a segunda e vitimou uma pessoa e feriu duas", explicou o capitão dos bombeiros Luiz Alves. Um dos homens da brigada de incêndio morreu na hora, outros dois ficaram feridos e foram internados na UTI de um hospital da cidade.

Segundo bombeiros, todas as medidas de segurança foram adotadas por eles. A tubulação verificada é de um material químico usado na fabricação de remédios. Mais de 20 homens do Corpo de Bombeiros participaram do socorro e da ação de controle da área. A perícia também esteve no local. O fogo já estava controlado às 20h25min. As explosões foram percebidas por pessoas que moram próximo à empresa.

A empresa deve permanecer fechada até que seja apontada a causa do acidente. A fábrica já havia registrado uma explosão em abril de 2009, quando dois funcionários foram atingidos por estilhaços.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Grandes áreas arborizadas: pulmões verdes dentro dos novos empreendimentos cariocas


Área verde corresponde a grande parte do empreendimento da Barra, que ocupa terreno de 22.500 metros quadrados (Fotos: Divulgação)

Área verde corresponde a grande parte do empreendimento da Barra, que ocupa terreno de 22.500 metros quadrados (Fotos: Divulgação)

Os parques e jardins, além de serem considerados descontraídos pontos de encontro, funcionam como pulmões verdes, rompendo com o frenesi diário dos grandes centros urbanos. As construtoras, alinhadas com os conceitos de sustentabilidade e qualidade de vida, estão incorporando esses espaços aos seus novos empreendimentos. Em alguns casos, essas áreas chegam a tomar conta da maior parte do terreno.

O residencial Eco Park, da MDL Realty, em Pendotiba, por exemplo, conta com uma área de mais de 20 mil metros quadrados de parque ecológico privativo. A área verde corresponde à quase totalidade do empreendimento, já que o terreno total tem 22.500 metros quadrados. A ideia é dar aos moradores a possibilidade de fazer caminhadas ao ar livre, com todo o silêncio que a natureza pode proporcionar, dentro da cidade. O projeto venceu o prêmio Top Imobiliário da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi) de Niterói no ano passado.

As construtoras Carvalho Hosken e RJZ Cyrela foram buscar soluções com paisagistas no projeto do Cidade Jardim, na Barra, que conta com uma área de 512 mil metros quadrados. O projeto inclui uso de materiais recicláveis ou que não agridam o meio ambiente, reutilização de água da chuva, coleta seletiva de lixo e, aliado a isso tudo, muito verde. A construção receberá o plantio de cerca de sete mil árvores, o dobro do número necessário para zerar a emissão de carbono do empreendimento.

“Nos condomínios-bairro que criamos, damos ênfase ao verde, pois além de propiciar um contato harmônico entre o homem e a natureza, nos permite contemplar o belo. Isso tranquiliza o homem”, explica o presidente da Carvalho Hosken, Carlos Carvalho.

Ao todo serão plantadas sete mil árvores no terreno do condomínio da Tijuca, formando um imenso cinturão verde

Ao todo serão plantadas sete mil árvores no terreno do condomínio da Tijuca, formando um imenso cinturão verde

O residencial Renaissance, que está sendo construído pela Calçada no bairro da Tijuca, também terá um grande bosque, de 1.100 metros quadrados, dentro de um terreno de 3.300 metros quadrados. Plantas nativas da Mata Atlântica farão parte do projetado paisagístico, assinado por Benedito Abbud.

“Não conheço, na Tijuca, um bosque privativo desse porte, onde os moradores poderão desfrutar da natureza e terão lazer garantido dentro do empreendimento”, afirma o diretor de marketing da Calçada, Bruno Oliveira.

Plantas nativas da Mata Atlântica fazem parte do bosque do Renaissance, assinado pelo paisagista Benedito Abbud

Plantas nativas da Mata Atlântica fazem parte do bosque do Renaissance, assinado pelo paisagista Benedito Abbud

A fachada do edifício de sete andares, que ocupará apenas 30% do terreno, preservará a arquitetura clássica francesa de seus vizinhos. Segundo Oliveira, a construtora optou por harmonizar a rua.

“Como estaremos ao lado de construções históricas, tombadas pela prefeitura, achamos importante manter o estilo nobre e clássico já existente.”

segunda-feira, 2 de agosto de 2010


Exposição a ruído no trabalho pode causar surdez definitiva

Data: 30/07/2010 / Fonte: Fundacentro


Passado um mês da copa do mundo na África do Sul, quem não se lembra das polêmicas vuvuzelas sopradas a plenos pulmões nos estádios de futebol? Pois a exposição a ruído excessivo pode ocasionar perda da audição e outros efeitos extra-auditivos, sejam passageiros ou irreversíveis, segundo pesquisa da Fundacentro sobre ruídos no ambiente de trabalho.

Segundo o pesquisador Irlon Ângelo Calmon, essas alterações decorrem de vários fatores, entre os quais, a intensidade; as freqüências; o tempo de exposição e a distribuição do ruído ao longo da jornada; a suscetibilidade individual e "até mesmo a própria percepção e atitude de cada indivíduo frente ao ruído", ressalta.

Alertando para os possíveis efeitos extra-auditivos induzidos pelo ruído, como problemas psicológicos e fisiológicos, distúrbios de comunicação, do sono, circulatórios e comportamentais. Também são diagnosticadas alterações na atenção e concentração mental, no ritmo respiratório e ritmo cardíaco. Há aumento da irritabilidade e perturbações no trabalho, que acabam alterando o rendimento do trabalhador.

"Para se resguardarem dos danos causados pelo ruído no ambiente laboral os trabalhadores devem ser orientados e capacitados sobre os efeitos da exposição e que resultados negativos o ruído provoca na sua qualidade de vida", observa Calomon.

O estudioso destaca ainda os procedimentos que as empresas devem adotar para auxiliar na redução da exposição ao agente emissor do ruído: a aplicação, os cuidados e as limitações do uso de protetores auditivos e as medidas e programas de controle da exposição, tais como o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO).

Prevenção

Além de desenvolver estudos e prestar assessoria relacionada à prevenção, avaliação e controle da exposição ocupacional ao ruído, em atividades industriais, mineração, construção civil, área florestal etc., a Fundacentro também atua em parceria com outras instituições no desenvolvimento de atividades de campo.

Estudos e Difusão

A instituição criada para elaborar e difundir conhecimentos relacionados com a Segurança e Saúde no Trabalho tem diversas publicações abordando a questão do ruído no ambiente laboral, entre as quais, normas e procedimentos técnicos, manuais de recomendação, dissertações de mestrado e teses de doutorado.

A entidade também presta atendimento através de e-mail, telefone ou diretamente, no Centro Técnino Nacional, em São Paulo, e nas unidades descentralizadas e promove cursos abertos ao publico em geral sobre o assunto.

Legislação

A Norma Regulamentadora do Ministério do Trabalho e Emprego, NR-15 - das atividades e operações insalubres - conceitua o que é ruído contínuo ou intermitente e de impacto e os limites de tolerância, no ambiente de trabalho.

Conceito

Segundo a norma do MTE, para fins de aplicação de Limites de Tolerância, entende-se por ruído de impacto aquele que apresenta picos de energia acústica de duração inferior a 1 (um) segundo, a intervalos superiores a 1 (um) segundo e por ruído contínuo e intermitente, todo e qualquer ruído que não seja de impacto.

Tabela de limites de tolerância para ruídos contínuos ou intermitentes:

Nível de ruído dB (A) / Máxima exposição diário permissível
85 / 8 horas
86 / 7 horas
87 / 6 horas
88 / 5 horas
89 / 4 horas e 30 minutos
90 / 4 horas
91 / 3 horas e 30 minutos
92 / 3 horas
93 / 2 horas e 40 minutos
94 / 2 horas e 15 minutos
95 / 2 horas
96 / 1 hora e 45 minutos
98 / 1 hora e 15 minutos
100 / 1 hora
102 / 45 minutos
104 / 35 minutos
105 / 30 minutos
106 / 26 minutos
108 / 20 minutos
110 / 15 minutos
112 / 10 minutos
114 / 8 minutos
115 / 7 minutos

terça-feira, 27 de julho de 2010


INSS amplia cobranças por acidentes de trabalho


Data: 26/07/2010 / Fonte: Valor Econômico

Ilustração: Gabriel Renner/Revista Proteção


Com um placar extremamente favorável na Justiça, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) decidiu ampliar o ataque às empresas que estariam desrespeitando normas de segurança e saúde no trabalho. Agora, o órgão está ingressando com ações regressivas para recuperar o que foi gasto com benefícios concedidos a trabalhadores com doenças ocupacionais - especialmente lesão por esforço repetitivo (LER). Até então, os alvos do INSS eram apenas os acidentes fatais e graves. No total,já foram ajuizados 1,4 mil processos, que buscam o ressarcimento de aproximadamente R$ 100 milhões. E 129 sentenças foram proferidas - 82% delas favoráveis à Previdência Social.

O trabalho de cobrança, iniciado informalmente em 1999, foi intensificado em meados de 2008, quando a Procuradoria-Geral Federal (PGF) - órgão subordinado a Advocacia-Geral da União - colocou em campo 140 procuradores para investigar acidentes de trabalho e tentar recuperar benefícios pagos em que há indícios de culpa do empregador. Só no ano passado, o INSS desembolsou cerca de R$ 14 bilhões com aposentadorias por invalidez, pensões por morte e auxílio-doença. "Só entramos com ação quando comprovamos a culpa da empresa", diz Carina Bellini Cancella, coordenadora-geral de cobrança e recuperação de créditos da PGF.

O trabalho de investigação reduz as chances de o INSS perder a batalha na Justiça, segundo a procuradora. Nas sentenças e em decisões de segunda instância, o principal argumento das empresas contra o direito de regresso da Previdência Social - previsto na Lei na 8213, de 1991- tem sido derrubado. Elas alegam que é ilegal exigir o ressarcimento de quem já paga um seguro - o Seguro Acidente de Trabalho (SAT) - criado justamente para cobrir as despesas da Previdência Social com benefícios. "É um absurdo. Para que serve o SAT, então?", questiona o advogado Rodrigo Arruda Campos, sócio da área previdenciária do escritório Demarest & Almeida, que defende dez clientes em ações regressivas ajuizadas pelo INSS.

Em recente decisão, o juiz José Jácomo Gimenes, da la Vara Federal de Maringá (PR), entendeu, no entanto, que "a contribuição é apenas uma das diversas fontes de custeio da Previdência Social e não exime os empregadores de seu dever de ressarcimento aos cofres públicos dos prejuízos causados por sua negligencia no cumprimento das normas de segurança e medicina do trabalho". Com esse entendimento, condenou uma indústria de alimentos a pagar R$ 300 mil para o custeio da pensão da viúva de um funcionário que morreu com a explosão de um forno em 2007. Com o crescente volume de ações regressivas, muitas empresas estão buscando a procuradoria para negociar."


No Brasil, cerca de 15 milhões trabalham no período noturno

Data: 26/07/2010 / Fonte: Administradores

Ilustração: Beto Soares/ Revista Proteção


As reclamações de trabalhadores sobre as dificuldades de trabalhar à noite têm fundamento, pelo menos no tocante à saúde, afirmam especialistas.O sono diurno, dizem médicos, nunca compensa em quantidade e qualidade as horas não dormidas à noite. No país, cerca de 15 milhões de pessoas trabalham no período noturno, segundo estimativa do Instituto do Sono em São Paulo com dados do Ministério do Trabalho.

As consequências são variadas. Recentemente, foi constatado alto índice de câncer entre os trabalhadores noturnos, alerta Marco Túlio de Mello, médico e pesquisador do instituto. "Ainda não está provada a relação direta entre a doença e o regime de trabalho, mas há indícios", explica.

Eles também têm maior chance de desenvolver doenças ligadas à baixa imunidade -como gripes-, obesidade e cefaleia, acrescenta Geraldo Rizzo, neurologista e coordenador do Laboratório do Sono de Porto Alegre. "A maior predisposição para doenças ocorre por alteração da atividade metabólica com a piora do sono", diz Mello.

Remuneração

Uma das motivações para os profissionais atuarem à noite é a remuneração maior. Eles recebem 20% a mais do que se trabalhassem de dia. No entanto, há prejuízo nas relações com família e amigos, além de dificuldade de solucionar situações cotidianas, como ida ao banco.

Além de profissionais de saúde e de segurança, especialistas em TI (tecnologia da informação) são cada vez mais obrigados a enfrentar os plantões de madrugada.

É o caso do analista de redes Ricardo Lima, 26, que em 2005 foi transferido para a madrugada, mas não aguentou. Com no máximo quatro horas de sono por dia e dificuldade de se alimentar bem, voltou a trabalhar de dia quatro meses depois.

"Percebi que aumentaram os cabelos brancos", conta Lima, que diz estar ciente de que o expediente noturno é parte de seu trabalho. "Os processos são realizados à noite, quando ninguém usa computador", explica.

Por isso, em dias em que trabalha nesse horário, compensa o esforço com o banco de horas -justamente o que os médicos mais recomendam evitar: turnos variados. "Assim o corpo funciona de forma descontínua. Sugiro a pacientes não dormir de dia nas folgas para aproveitar o período", orienta Rizzo.

Recomendações
-Quem dorme de dia tem sono mais curto e menos profundo que o noturno. Procure ambientes tranquilos e sem claridade para não afetar ainda mais o desenvolvimento do sono
-Profissionais que atuam à noite apresentam maior índice de absenteísmo, causando ônus também ao empregador. Exija da empresa turnos adequados ao seu metabolismo
-Alimente-se de forma equilibrada. Trabalhadores noturnos têm 40% mais chances de ter doenças digestivas
-Se perceber prejuízos à saúde, procure um médico. A função que executa pode não ser adequada a seu metabolismo

Direitos de quem faz trabalho noturno
-Jornada: Das 22h às 5h
-Hora de trabalho: Uma hora é reduzida para 52 minutos e 30 segundos
-Hora de descanso: 60 minutos
-Adicional noturno: Mínimo de 20% sobre o valor da hora trabalhada
Hora extra: 50% sobre o valor da hora de trabalho. É acumulativa em relação ao adicional

quinta-feira, 15 de julho de 2010


Bombeiros tem autonomia para embargar obra irregular


Data: 14/07/2010 / Fonte: Paraná Online

Paraná - As obras que apresentam riscos à segurança dos trabalhadores ou quaisquer irregularidades serão embargadas pelo Corpo de Bombeiros. É o que prevê projeto de lei do Governo do Estado em trâmite na Assembleia Legislativa do Paraná. A iniciativa prevê ainda a criação do Conselho Estadual de Segurança contra Incêndios (Conesci).

Quem não cumprir a normativa estará sujeito a multas de até R$ 1,2 milhão. Esta proposta tem por finalidade a adoção de medidas de segurança aos trabalhadores e garantir mais autonomia ao Corpo de Bombeiros no trabalho de prevenção e combate a incêndios, proporcionando mais tranquilidade à população.

No caso de descumprimento, o projeto de lei também prevê a restrição de direitos, tais como a suspensão de registro, licença ou autorização; cancelamento de registro; perda ou restrição de incentivos fiscais, linhas de financiamento e proibição de contratar com a administração pública pelo período de até três anos.

Segundo o Governo do Estado, a proposta irá legalizar a situação dos bombeiros, dando a eles poder de polícia administrativa. Os serviços de bombeiros estão disponíveis em aproximadamente 100 municípios do Paraná. A expectativa é que em curto prazo o atendimento seja prestado a mais de 80% das cidades.

Conselho

O Conselho Estadual de Segurança contra incêndio, criado no âmbito da Secretaria estadual da Segurança Pública, será presidido pelo comandante do Corpo de Bombeiros Militar do Paraná.

A composição do órgão será por um representante das Secretarias de Saúde, Obras Públicas, Indústria, Comércio e Assuntos do Mercosul, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Meio Ambiente, Transportes; um da Coordenadoria Estadual da Defesa Civil; um da Casa Civil; um do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia; um do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Paraná; chefe da Seção de prevenção do Corpo de Bombeiros; um representante de cada unidade operacional e cinco representantes dos municípios do Paraná.

O plano de atuação do Conesci prevê o monitoramento e fiscalização de empreendimentos. Caberá ao órgão ainda verificar a viabilidade técnica ou econômica de determinada medida de segurança e, em caso de irregularidade, deverá mediante estudo de viabilidade técnica, autorizar a adaptação ou substituição.

sexta-feira, 9 de julho de 2010



GESTÃO DE RESÍDUOS




Senado aprova PNRS: lixo, agora, é problema de todos


Esta noite, Senado pôs fim à “novela” que durou 21 anos no Legislativo ao aprovar a nova lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS. Agora, a responsabilidade sobre os resíduos é de todos: governo, empresas e cidadãos. E a logística reversa é obrigatória. Fernando Von Zubben, da Tetra Pak, explica os próximos passos depois da assinatura de Lula e o retorno da nova lei ao Legislativo para regulamentação


Sérgio Adeodato - Edição: Mônica Nunes
Planeta Sustentável - 07/07/2010

O Senado aprovou nesta quarta-feira, dia 7, a lei que estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos, encerrando uma novela que já durou 21 anos no Legislativo. Trata-se de um marco histórico na área ambiental, capaz de mudar em curto tempo a maneira como poder público, empresas e consumidores lidam com a questão do lixo. Entre as novidades, a nova lei obriga a logística reversa -- o retorno de embalagens e outros materiais à produção industrial após consumo e descarte pela população.

As regras seguem o princípio de responsabilidade compartilhada entre os diferentes elos dessa cadeia, desde as fábricas até o destino final. Os municípios, por exemplo, ganham obrigações no sentido de banir lixões e implantar sistemas para a coleta de materiais recicláveis nas residências. Hoje, apenas 7% das prefeituras prestam o serviço.

“A lei consagra no Brasil o viés social da reciclagem, ao reforçar o papel das cooperativas de catadores como agentes da gestão do lixo, com acesso a apoio financeiro, podendo também fazer a coleta seletiva nos domicílios”, destaca Victor Bicca, presidente do Cempre - Compromisso Empresarial para Reciclagem. Existem no país cerca de 1 milhão de catadores, em sua maioria autônomos, que trabalham em condições precárias e sob exploração de atravessadores.

Empresas que já adotam práticas em favor da reciclagem, dentro do conceito de sustentabilidade, terão maior campo para expansão. “A partir de regras claras”, diz Bicca, “a reciclagem finalmente avançará no país, sem os entraves que a inibiam, apesar dos avanços na última década por conta do dilema ambiental”. E ele acrescenta: “Sem um marco regulatório nacional, a gestão do lixo estava ao sabor de leis estaduais que variam de região para região e, em alguns casos, impõem taxação e metas para a recuperação de embalagens após o consumo”. O empresário lembra que, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o país perde R$ 8 bilhões por ano ao enterrar o lixo reciclável, sem contar os prejuízos ambientais.

“O atraso da lei gerou danos ambientais significativos, a exemplo da multiplicação de lixões, que neste ano resultou em mortes nas encostas de Niterói durante as chuvas de verão, além do despejo de resíduos em cursos de água”, afirma o deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP), responsável pela versão final do projeto na Câmara dos Deputados, onde recebeu mais de cem emendas. “Não foi um tempo jogado fora, porque nesse período a consciência da sociedade despertou para o problema e conseguimos maior convergência de posições”, ressalva o deputado.

Desde fevereiro, a lei aguardava votação no Senado, com apoio do governo federal, consenso entre diferentes setores envolvidos no debate e acordo de lideranças partidárias para acelerar o processo. Nesta quarta-feira, em sessão conjunta das comissões de Cidadania e Justiça, Assuntos Sociais, Assuntos Econômicos e Meio Ambiente, o projeto recebeu os últimos ajustes e foi levado ao Plenário, contendo 58 artigos em 43 páginas. Foi aprovada pouco depois das 21h.

Após a assinatura do Presidente da República, a lei voltará ao Legislativo para a regulamentação, definindo itens ainda pendentes, como incentivos financeiros e regras específicas para a logística reversa, que serão estipuladas mediante acordos entre os setores industriais. Pela lei recém-aprovada, a logística reversa começará pelas embalagens de agrotóxicos, pilhas e baterias, pneus, óleos lubrificantes, lâmpadas e produtos eletroeletrônicos e seus componentes, como computadores, telefones celulares e cartuchos de impressão.

A lei proíbe a importação de qualquer tipo de lixo. Também não será permitido catar lixo, criar animais ou morar em aterros sanitários. “O novo modelo muda o enfoque atual da gestão de resíduos, baseado unicamente na geração, coleta e disposição final do lixo”, explica Carlos Silva Filho, diretor executivo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais - Abrelpe. “Agora a preocupação é mais abrangente, envolvendo desde a redução dos resíduos com práticas de consumo consciente até a otimização da coleta e novas modalidades, como o uso do lixo para gerar energia, ficando o despejo, em aterros sanitários, como última alternativa”. Carlos Silva lembra que “agora é preciso resolver como cobrir o custo da implantação desses processos, mediante novos sistemas de remuneração”.

Fernando von Zuben, diretor de meio ambiente da Tetra Pak, comemora o desfecho da nova lei após espera de duas décadas: “A reciclagem deverá duplicar em cinco anos no Brasil”. Como exemplo, a indústria que ele representa - fabricante de caixas para leite, sucos e outros alimentos - planeja aumentar de 26% para 40% a recuperação das embalagens após o consumo, até 2011. Na entrevista abaixo, von Zuben comenta os avanços da nova lei e a perspectiva futura da reciclagem em favor do desenvolvimento econômico, da geração de renda e da melhor qualidade de vida nas cidades.

Qual o principal marco divisor de águas da nova lei e o que mudará no curto ou médio prazo para solucionar o problema do lixo?
O ponto central é a responsabilidade pela gestão dos resíduos, compartilhada entre governo, empresas e população. Hoje existe uma grande bagunça, com uns jogando a responsabilidade sobre outros. Estamos na Idade da Pedra quando o assunto é lixo urbano, mas agora, com as regras do jogo definidas, a realidade deve mudar. Será mais fácil exigir que cada um cumpra o seu papel. Com a lei, ganhamos um roteiro e um script, com atores e papéis pré-determinados. A partir desse roteiro, os personagens ensaiarão por cinco anos, quando, então, o espetáculo entrará em cartaz -- ou seja, o novo modelo começará a funcionar plenamente.

O que cabe ao poder público nessa difícil trama que envolve conflitos, custos financeiros e desafios para encontrar o melhor destino para os resíduos urbanos?
Os municípios são obrigados a tomar providências para acabar com lixões, construir aterros sanitários dentro de critérios ambientais e implantar sistemas de reciclagem, com serviços mais eficientes de coleta seletiva nas residências. Hoje, a maioria das cidades não dá a mínima para a questão dos resíduos. Mais da metade dá ao lixo uma destinação inadequada, com impactos no meio ambiente. Após a lei, os promotores públicos terão base para fiscalizar e cobrar das prefeituras ações concretas para resolver esses problemas.

Quais os próximos passos para tirar a lei do papel?
Após a assinatura do Presidente da República, começa uma nova batalha: a regulamentação da lei no Congresso Nacional. Nessa etapa, serão definidos pontos importantes, como prazos para as prefeituras erradicarem lixões e a criação de instrumentos financeiros, previstos pela lei, para incentivar e estruturar o tratamento do lixo e a cadeia da reciclagem. Não queremos incentivos fiscais, mas justiça fiscal. Hoje, as empresas que atuam nessa atividade são prejudicadas pela bitributação. O imposto é cobrado duas vezes: tanto no processamento industrial dos materiais do lixo, como no seu uso em produtos reciclados.

As indústrias estão prontas para desempenhar novos papéis, como o apoio para receber de volta, após o consumo, embalagens e outros materiais contidos em seus produtos?
Muitas empresas se anteciparam à lei e, nos últimos anos, implantaram programas de reciclagem, dentro da visão de sustentabilidade, tendo em vista os problemas ambientais do planeta. Agora, com a aplicação da lei, haverá maior quantidade de lixo para reciclagem, o que impõe novos desafios. Com maior escala, haverá mais investimentos em tecnologia para melhorar a qualidade e diversificar os usos dos materiais reciclados. O mercado crescerá, gerando ganhos para toda a cadeia -- desde os coletores e separadores dos materiais recicláveis até empresas que fazem o processamento inicial da nova matéria prima e indústrias que as utilizam nos produtos finais que compramos nas lojas e supermercados. Hoje, no Brasil, cerca de 12% do lixo coletado nas residências é reciclado. A estimativa, com a nova legislação, é dobrar esse índice em cinco anos.

O consumidor, com a separação dos materiais na origem, é chave nesse processo. Ele está suficientemente conscientizado para mudar hábitos e se engajar nesse trabalho?
É preciso fazer a nossa parte nas residências, separando o lixo seco (plásticos, papéis, latas, vidros etc) dos úmidos (restos de alimento e sujeiras de matéria orgânica em geral). Faremos campanhas de massa. Os consumidores passarão a ser incentivados para essa prática, com campanhas de educação e serviços mais eficientes de coleta dos materiais nas residências. Nos últimos dez anos, melhoraram muito tanto o nível de conscientização como a qualidade da coleta nos domicílios, onde os materiais são separados na fonte.

Entre suas principais características, a lei reforça o papel das cooperativas de catadores. Elas estão capacitadas para absorver o aumento da quantidade de lixo reciclável? Hoje apenas uma ínfima parte do lixo reciclável é processado nas cooperativas.
Entre os catadores, há iniciativas de diversos padrões, desde pequenos núcleos que operam sem condições de segurança ou higiene até grandes cooperativas com gestão de negócios, maquinário, veículos e controle da produção. No geral, as cooperativas precisam ser capacitadas para esse importante papel, definido pela lei. Elas poderão, inclusive, ser contratadas pelo poder público para fazer a coleta nas residências. Não faltará lixo reciclável para outras iniciativas de separação e processamento, tanto de cunho social, como empresarial.