domingo, 2 de maio de 2010


Pesquisadora analisa diferenças entre trabalhos informais

Data: 29/04/2010 / Fonte: Redação Revista Proteção

A socióloga Myrian Matsuo, servidora da Fundacentro, realizou um estudo sobre as diferenças simbólicas entre quatro diferentes categorias de trabalho informal: pescadores, catadores de material reciclável, camelôs e boias-frias que trabalham na colheita de laranja. Myrian analisou as condições de vida e de trabalho dos trabalhadores e a imagem de cada categoria. A pesquisa constituiu-se de mais de 40 entrevistas com trabalhadores, além do acompanhamento do dia-a-dia deles. Os catadores de lixo e os vendedores ambulantes entrevistados são da cidade de São Paulo, os boias-frias trabalham no interior do estado de São Paulo e os pescadores são do estado de Ceará, onde pescam lagosta.

Condições de trabalho

A socióloga enfatiza que as quatro profissões possuem péssimas condições de trabalho. Sedi Hirano, orientador da pesquisa e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, exemplifica com os catadores de laranja. O professor relata que o trabalho é muito desgastante, somado ao fato de que convivem diariamente em ambientes insalubres e em contato direto com produtos químicos arriscados para saúde. "Os boias-frias adquirem doenças variadas e, ao longo do tempo, sofrem de problemas físicos, como dores na coluna. O pior é que não podem nem reclamar, pois não têm carteira assinada e ganham pelo que produzem", comenta o professor em entrevista à Agência USP.

Escolaridade

Verificou-se que os catadores de material reciclável estavam entre as piores situações. "Eles tinham menor escolaridade, viviam sozinhos, vinham de uma família mal estruturada e eram sem tetos", diz Hirano. Os boias-frias possuíam um grau de escolaridade similar, mas tinham uma moradia, mesmo que precária, e possuíam uma família, que muitas vezes trabalhava junto na colheita. Em alguns casos, os camelôs também tinham familiares que os ajudavam no trabalho. Contudo, os vendedores apresentaram o maior grau de escolaridade. "Isso porque o camelô trabalha com a palavra, com a comunicação, o trabalho precisa de uma articulação verbal que as outras categorias não precisam. Isso exige uma formação escolar melhor", explica Hirano.

Imagem

"Se pegarmos as imagens e representações cristãs do pescador, o nome está ligado a São Pedro, o pescador de alma. (ÂÂ…) A profissão está diretamente à vida humana e à qualidade de vida", comenta Sedi Hirano, em entrevista à Agência USP. "Já os catadores são vistos como criminosos, maconheiros, bêbados, figuras do submundo; eles prefiguram uma imagem de um não cidadão", complementa o professor.

Informalidade

Segundo Myrian, a inserção e permanência nessas ocupações informais e precárias ocorrem por falta de opção. "Um dos aspectos mais ressaltados pelos entrevistados é a falta de proteção e de direitos sociais e trabalhistas na ocupação informal", constata Myrian. "O ganho por produção e um bom rendimento, muitas vezes melhor do que dos trabalhadores contratados, parece ser um atrativo para os jovens, mas na maturidade e na velhice o `bicoÂÂ’, o subemprego, o trabalho temporário e a atividade informal deixam de ser vantajosos". Segundo a pesquisadora, uma das possíveis soluções seria a formalização desses trabalhos como uma maneira de garantir os direitos trabalhistas e de melhorar as condições de trabalho.

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